As Avós de Jesus



Nas listas genealógicas da Bíblia, as mulheres não costumam aparecer. Por isso, a presença de nomes femininos na de Jesus é um facto surpreendente e revolucionário. E se investigarmos quem foram estas mulheres, a sua aparição deixa-nos ainda mais estupefactos. São elas: Tamar, a incestuosa (v.3); Raab, a prostituta (v.5); Rute, a excomungada (v.5), e Betsabé, a adúltera (v.6).
A avó Tamar
A primeira antepassada de Jesus mencionada por Mateus é Tamar. A sua história aparece em Génesis 38. Casou muito nova com Er, e enviuvou pouco depois sem ter filhos. Segundo uma lei daquele tempo chamada “levirato”, o seu cunhado devia ter relações com ela para lhe dar um filho, que seria do seu defunto esposo. Assim, este não ficaria sem descendência, pois a maior desgraça para alguém era morrer sem filhos.
O seu cunhado Onan casou, pois, com Tamar, mas convivia com ela evitando os filhos, por um processo a que se deu precisamente o seu nome: onanismo. Finalmente morreu também, e Tamar, duas vezes viúva, continuou sem filhos.
Judá, o pai dos seus dois maridos, suspeitando que ela era uma mulher fatídica, negou-se a entregar-lhe o seu terceiro filho como esposo, pois não queria perder o último que lhe restava.
Então, Tamar pensou num estratagema. Um dia, disfarçada de prostituta, sentou-se junto de um cruzamento quando o seu sogro ia a passar. Este, confundindo-a, prometeu-lhe um cabrito em troca dos seus favores. E, como senha, deixou-lhe o seu cajado, o seu cinto e o seu selo identificativo. Quando mais tarde lhe enviou o cabrito como paga, ela já lá não estava, e não havia notícia de nenhuma prostituta nesse lugar.
Mas ela ficou grávida daquela relação. Quando Judá soube que a sua nora estava à espera de um filho, enfureceu-se e, envergonhado, exclamou: «Tirem-na de casa e queimem-na viva.» Tamar, então, activou a segunda parte do seu plano, enviando uma mensagem ao seu sogro: «O dono deste cajado, deste cinto e deste selo é o pai do filho que espero nas minhas entranhas.»
Assim Tamar, a incestuosa, conseguiu um filho. E assim salvou a sua vida. Mulher perversa, ou astuta? Ou simplesmente mulher? O certo é que Mateus colocou o escandaloso nome de Tamar entre os antepassados de Jesus.
A avó Raab
A segunda mulher mencionada é Raab, prostituta de profissão. A sua história é uma história de espionagem militar, durante a época da conquista (Josué 2).
Quando Josué, chefe do exército de Israel, chegou às portas da terra prometida, deparou-se com a cidade de Jericó. Para saber se era possível tomá-la ou não, enviou espiões que se alojaram em casa de Raab, uma prostituta da cidade.
Descobertos pela polícia local, a mulher escondeu-os e ajudou-os a fugir, descendo-os com umas cordas pela janela das muralhas. Mas antes, pediu-lhes que o exército hebreu poupasse a vida dela e a da sua família quando tomasse a cidade. Eles aceitaram e disseram-lhe que atasse uma faixa vermelha aos barrotes da janela para identificar a casa.
O assalto à cidade foi tremendo. Os soldados de Josué destruíram e saquearam Jericó, e todos os seus habitantes foram assassinados. Mas Raab salvou a sua vida e a da sua família, como tinha acordado com os espiões. Pouco depois, Raab, a prostituta, chegou a figurar entre as antepassadas de Jesus. E Mateus não se esqueceu de colocar o seu nome na genealogia.
A avó Rute
Era uma rapariga moabita, isto é, do país de Moab (Rt 1-4). Conheceu o amor desde muito nova. Mas também a dor e a solidão, já que enviuvou sem ter tido filhos.
A partir de então, foi um exemplo de fidelidade à sua sogra Noemi, a quem sempre acompanhou para ajudá-la. Foi uma mulher de trabalho, muito sacrificada para ganhar o seu pão. Mais tarde voltou a conhecer o amor na pessoa de Booz. Viveu, então, um segundo idílio nos campos de Belém. E encontrou finalmente a felicidade, como prémio do seu trabalho, da sua abnegação e da sua fidelidade.
Mas, embora a sua moral fosse inatacável, tinha algo vergonhoso para qualquer judeu, como dissemos: era estrangeira. Pior ainda, pertencia aos moabitas, um dos povos mais odiados pelos judeus. Tão desprezáveis eram para eles, que a própria Lei judaica tinha-os excomungado para sempre, e não lhes era permitido nunca formar parte da fé de Israel. O livro do Deuteronómio mandava: «Um moabita ou uma moabita não serão admitidos na assembleia do Senhor; nem mesmo a sua décima geração poderá jamais ser ali admitida» (Dt 23,4).
Esta mulher, excomungada e desprezada, foi escolhida por Mateus para figurar entre as antepassadas de Jesus.
A avó Betsabé
Era uma mulher hitita, esposa de Urias, oficial do rei David (2 Sm 11). Vivia com o seu esposo em Jerusalém, perto do palácio do rei. Era muito bonita. Tão bonita, que o rei David se encantou perdidamente por ela. Aproveitando o facto de Urias ter partido para a guerra, o rei mandou chamá-la ao palácio, e ambos, por mútua cumplicidade, se uniram amorosamente.
Ela, então, ficou grávida. Para evitar o escândalo, David fez vir Urias da frente de batalha e deu-lhe uns dias de férias em sua casa, a fim de que este convivesse com sua mulher durante um tempo razoável e assim cobrisse as aparências. Mas Urias opôs-se a este privilégio, sabendo que os seus soldados estavam em plena guerra.
Perante isto, o rei fez com que o mandassem novamente para o meio da luta, para a zona mais dura e de maior perigo. Deste modo, Urias morreu e David pôde ficar com sua esposa Betsabé.
Algum tempo depois, um profeta, mediante uma comovedora parábola, fez ver a David o seu crime e o seu gravíssimo pecado. David, humildemente, reconheceu a sua culpa, arrependeu-se e pediu perdão.
Betsabé deu muito amor a David. Mas também muitas intrigas, ciúmes, lágrimas e dor. E Mateus colocou esta mulher adúltera como a quarta antecessora de Jesus.

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