Tamar, tataravó de Jesus
Tamar, o direito de ser mãe
Naquela época, uma viúva sem filhos teria sérios problemas na
vida. Ela estaria condenada à mendicância após a morte de seus pais, pois o
marido era responsável pelo sustento e o filho, pela garantia da herança. Após
a morte de seu esposo, Tamar lutou pelo seu “direito de ter um
filho” e sobretudo garantir os direitos de Er, seu esposo, em
ter o seu nome preservado através de um descendente. Em tais situações, era
dever do cunhado perpetuar a linhagem de seu irmão falecido (lei do
levirato) e a também prover o sustento e as necessidades da viúva.
Cumprindo-se a lei do levirato, Judá entrega Tamar a Onã, seu
filho do meio. Por essa lei, o cunhado só poderia ter relações para gerar um
herdeiro para o irmão falecido, sendo que após a concepção, ela seria
novamente viúva e não poderia mais ter relações. Onã porém agiu com mesquinhez,
primeiro porque não queria ter que dividir sua herança com o filho que nasceria
da cunhada (e a herança do primogênito, ou seja, do filho mais velho que
faleceu, era dobrada). Segundo, porque queria continuar mantendo relações.
Então ele usou-se de um artifício para não engravidar a cunhada – derramava o
sêmen na terra. Tal atitude custou-lhe a vida.
Entretanto, para Judá e sua esposa o problema não estava nos
filhos – estava em Tamar. Já percebeu como nós temos a tendência de culpar
outros pelos nossos problemas? Como é difícil para nós analisar uma situação de
maneira imparcial e reconhecer que a culpa não está em outras pessoas, mas em
nós mesmos?
Vemos isso muito claramente no versículo 11. Judá não estava
disposto a fazer cumprir a lei do levirato, entregando o filho mais novo para
Tamar – ele achava que, de alguma forma, ela era a responsável pela morte de
seus dois filhos mais velhos.
Entretanto, a lei do levirato prevê que, para continuar uma
linhagem, o próprio pai poderia gerar filho com sua nora – e Judá sequer
cogitou essa solução. Foi essa lei que as filhas de Ló utilizaram para gerar
filhos para seu pai, uma vez que achavam que não havia mais ninguém na terra
além deles.
Judá manda, no versículo 11, Tamar de volta para a casa de seus
pais, prometendo que assim que o filho mais novo estivesse na idade de casar,
ele a chamaria.
O tempo foi passando e ficou claro para Tamar que, se dependesse
de Judá, ela estaria condenada a ser uma viúva sem filhos. Mas ela tinha
direitos, e não abriu mão deles. Depois da morte da sogra, conhecendo os
hábitos do sogro, ela colocou em prática uma estratégia ousada: se fez passar
por uma prostitua cultual. O que era uma prostituta cultual? As prostitutas
cultuais eram usadas nos cultos de fertilidade no Oriente Médio. Nesses cultos
acreditava-se que a colheita e os rebanhos eram aumentados pelo intercurso
ritual com as prostitutas de certas deusas como Aserá, Asterote e Anate. Elas
normalmente cobriam o rosto, pois acreditava-se que as próprias deusas
“encarnavam” nessas mulheres.
Tamar havia pensado em todos os detalhes. Ela sabia que sua vida
estaria em risco quando sua barriga começasse a crescer e os fofoqueiros de
plantão (não se preocupe, eles são mais antigos que a profissão de prostituta)
levassem a notícia a Judá. Como não havia exame de DNA na época, ela precisaria
provar quem era o pai da criança, sem deixar sombra de dúvida. Ela então fica com
alguns pertences de Judá, como penhor: o selo, o cordão e o cajado.
Quando a notícia chegou a Judá (v.24), sua reação foi a
esperada: “Queimem a vagabunda!”. Veja como a notícia chegou: “tua nora adulterou e eis que está grávida do
adultério“.
O julgamento já havia sido dado – ela adulterou e ponto. Pior
ainda – eles nunca se importaram em interceder por Tamar junto a Judá para que
ele lhe enviasse o filho menor. Eles estavam prontos para criticar, acusar mas
não para ajudar.
Em sua sabedoria, Tamar espera o momento certo para “esfregar o
exame de DNA na cara de Judá”. E o reconhecimento de paternidade por parte
dele, declarando ter sido ela mais justa que ele mesmo. Essa mulher admirável,
que não aceitou abrir mão do que era seu por direito.
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